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Saneamento básico: “2033 é uma data muito otimista”, afirma presidente do Trata Brasil sobre universalização dos serviços de água e esgoto

Em entrevista exclusiva ao portal Brasil 61, o presidente do Instituto esclarece polêmicas sobre a entrada do setor privado na prestação dos serviços, prevista no marco legal, e afirma que o saneamento pode reduzir custos com internações


Enquanto o planeta enfrenta uma pandemia que já matou mais de meio milhão de pessoas, o Brasil ainda discute a melhor forma de prestar serviços básicos, como água potável e esgoto tratado. O País é um dos signatários do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que, em 2015, firmou o compromisso de universalizar os serviços até 2030. Internamente, a esperada universalização, seguindo o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), estava prevista para ocorrer até 2033. 

“Achamos que 2033 é uma data muito otimista, 2040 é uma data mais viável”, antecipa o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. A entidade é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), formado por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. 

Todo ano, o Instituto apresenta um ranking com o desempenho das 100 maiores cidades brasileiras em relação aos serviços prestados no setor. Segundo o levantamento feito no início deste ano, mais de 35 milhões de pessoas ainda não têm água e mais de 100 milhões ainda não dispõem de cobertura da coleta de esgoto. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2018 mostram, ainda, que apenas 46% do volume de esgoto gerado no Brasil é tratado. 

“A relação entre saneamento básico e a saúde é direta. A gente nota em qualquer comunidade que ou por um processo de expansão do saneamento básico que há uma queda brutal no número de internações. Em alguns lugares, os casos de diarreia e de verminoses caíram 80%”, relata o presidente do Trata Brasil. 

Segundo estudos encomendados pelo Instituto, os ganhos com saúde pública em 20 anos seriam de R$ 6 bilhões, só com redução de custos. “É um ganho que as prefeituras teriam muito rapidamente. Infelizmente, ainda temos que explicar para muitos prefeitos essa relação antiga entre saneamento e saúde. Muitos não fazem a conexão de que o grande número de internações na cidade ocorre por falta de saneamento”, alerta.

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Em entrevista exclusiva ao Brasil 61, Édison Carlos também falou sobre o marco legal do saneamento, aprovado recentemente no Senado Federal. O texto, que segue agora para sanção presidencial, prevê, entre outros, a participação de empresas privadas na prestação dos serviços. O presidente reforça que não faz distinção entre empresas estatais e particulares, mas defende que “não deve haver mercado cativo para ninguém” e uma maior fiscalização dos serviços. 

No bate-papo, ele esclarece sobre a privatização da água, alvo de críticas por parte do setor, sobre o desperdício que causa grandes perdas para o País e sobre o papel da população nesse processo. “É fundamental que o cidadão fiscalize. Precisamos nos preocupar com essa infraestrutura e cobrar isso dos governantes, questionar candidatos, ainda mais em ano de eleição. Eles precisam saber que estamos interessados. Se não for prioridade, vão fazer obras mais interessantes para eles, obras mais visuais e eleitoreiras.”  

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LOC: Olá, sejam bem-vindos ao Entrevistado da Semana. Eu sou Jalila Arabi e comigo está o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. Vamos falar sobre os desafios que os municípios enfrentam de oferecer serviços de saneamento básico para toda a população das cidades. 

Édison Carlos, obrigado por nos receber. 

TEC./SONORA: Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil
“Eu que agradeço.”

LOC: Quais os maiores desafios do saneamento básico no Brasil hoje?

TÉC./SONORA: Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil

“O desafio é enorme. Nós temos metade da população brasileira que não tem saneamento ainda, não tem coleta de esgoto. Temos 35 milhões de brasileiros que não têm água tratada em plena pandemia do novo coronavírus. Ou seja, pessoas que não podem cumprir a recomendação dos órgãos de saúde de higienizar as mãos porque não têm água nenhuma sequer para lavar a mão. É um quadro sanitário muito complicado, o Brasil é um país muito heterogêneo. Temos regiões que avançaram mais, regiões que não avançaram quase nada. Então, é um cenário bem desafiador levar água potável e saneamento básico para quem ainda não tem, porque muita gente está nas áreas mais vulneráveis, nas favelas, nas áreas rurais. É um desafio grande, sim.” 

LOC.: O senhor acredita que os serviços de saneamento básico podem refletir na saúde das pessoas? 

TEC./SONORA: Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil

“A relação entre saneamento básico e a saúde é direta. Notamos em qualquer comunidade, qualquer cidade que ou por um processo de expansão do saneamento básico que há uma queda brutal no número de internações. Em alguns lugares, os casos de diarreia e de verminoses caíram 80%.”

LOC.: O senhor acredita que alcançaremos a universalização dos serviços até 2033, data prevista pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB)? 

TEC./SONORA: Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil

“Acreditamos que 2033 é uma data muito otimista. 2040 é uma data mais viável, porque quando se fala em universalizar, falamos nas pessoas que moram mais distantes – e não só nas que moram nos centros urbanos, onde, teoricamente, é mais simples de se chegar, porque as redes estão mais perto.”

LOC: Com a aprovação recente do marco regulatório do saneamento, muitos acreditam que vai haver a privatização da água. De que forma o senhor avalia isso?

TEC/ SONORA: Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil

“Então, essa expressão ‘privatização da água’ é completamente errada. Não existe privatização da água, a água é um bem público. O serviço de saneamento é um serviço público, sempre será público. Ele pode ser operado por uma empresa privada, mas o serviço é público. No caso de uma empresa privada ou estatal, quando terminam os 30 anos dela, aquilo tudo é do município, eles não vão tirar o tubo e levá-lo para casa. Esse serviço sempre será público, ele pode ser prestado por uma empresa municipal, estadual ou privada, são modelos que a lei permite que se preste.”

LOC: Presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, nossa entrevista chega ao fim, muito obrigada por participar. 

TEC/ SONORA: Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil
“Sempre à disposição, um abraço.”

LOC: O Entrevistado da Semana fica por aqui. Obrigada pela sua audiência e até a próxima. Tchau!