TEC - Trilha, efeito de gado
LOC - O gado sofrendo com sede, a espera pela água do carro-pipa e a fé lançada ao céu, na esperança de que a chuva venha. Assim é a realidade de muitas famílias do sertão sergipano, especialmente no município de Poço Redondo, onde a água potável é um artigo de luxo. A cidade está localizada numa região conhecida como o Sertão do São Francisco. Distante 185 quilômetros da capital, Aracaju, o pequeno município tem pouco mais de 30 mil habitantes. É lá que fica a Grota de Angico, onde o bando de Lampião foi capturado. Um lugar marcado por tempos de miséria, lavoura perdida e sede que castigava. Mas essa realidade já começa a virar ado.
TEC - Sobe trilha, efeito de água
LOC - A água que chega no sertão sergipano é salobra, com uma concentração de sais superior à da água doce e que causa sérios problemas a saúde. Para mudar isso, equipamentos chamados dessalinizadores tem separado a água pura dos sais, tornado ela potável para o consumo. Na última semana, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, em parceria com o INCRA, assinou um termo de intenções para instalar novos dessalinizadores em assentamentos e comunidades quilombolas da região. Uma iniciativa que faz da água limpa um direito para quem vive entre poços salobros e baldes de esperança.
SONORA DULCE IRENE (0:08 a 0:17 - 0:21 a 0:22 - 0:42 a 0:46) “Eu sou Dulcirene Dias da Silva. Já sou aposentada. Trabalho na agricultura. Tenho uma filha. Meu pai era agricultor e eu comecei desde criança”
LOC - Dona Dulce mora no assentamento com o marido, a filha e uma neta pequena. Criou-se na roça, onde o som do mato e o sol forte são companhia de todo dia. Mas a água… ah, essa nunca foi certa… Ela até cavou um poço com o dinheiro da herança do pai. Mas a água é salobra e vai toda para o gado beber. Para consumo próprio, o preço é alto. Uma carrada de água custa 380 reais. Um dinheiro que faz muita falta para a pequena produção familiar.
SONORA DULCE IRENE (0:59 - 01:17 - 1:30 a 1:37 - 1:43 a 1:48) “Aí, meu pai faleceu, eu tive uma herança de 5 mil, aí mandei cavar esse poço. Meu genro me ajudou, aí abri o poço. Só que estão um pouco salobres. A gente está dando gado, mas bebe a poça” - “Para lá, para mim, é R$ 380,00 uma carraça de água que a gente paga. E para consumo humano tem que botar” - “Mas, assim, é sacrifício. A água lá é muito difícil”
TEC - Sobe trilha, BG
SONORA CLEITON (0:22 a 0:32) “Meu nome é Cleiton, sou agricultor também, moro no povoado de areias.
SONORA LIDIANNE (0:09 a 0:17) “Meu nome é Lidiane, tenho 41 anos, sou agricultora, dona de casa”
TEC - Sobe trilha e vai a BG
LOC - O casal de pequenos agricultores Cleiton e Lidianne já foi beneficiado por uma parceria anterior do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Social com o Governo do Estado, e hoje, vivem outra realidade. Com a instalação de um dessalinizador na comunidade de Areias, a água bruta é tratada e separada em dois fluxos: o rejeito vai pra um campo e a água doce é compartilhada entre os moradores.
SONORA CLEITON E LIDIANNE (1:19 a 1:59 - 2:08 a 2:34) “Aqui, a água bruta chega nas caixas, a caixa tem um salizador, que o rejeito vai para um campo e a doce vai para outro. Aí, todo mundo pega da água doce, aí todo mundo tem que contribuir, para pagar as manutenção da coisa. Os filtros, o flocão.” - “Para manter o poço. A importância, né? Que é programar água doce, água doce, para a região aqui do Agro Sertão do Sergipe, porque é uma água de qualidade. 83% mineral”
TEC - Sobe trilha, efeito de água
LOC - Pais de três filhas, o casal segue firme na agricultura, plantando e colhendo. Segurança hídrica é isso: garantir que a água esteja ali, sempre, com qualidade. A transformação começa no balde, mas alcança a vida inteira da comunidade. Porque onde chega água de verdade, chegam também saúde, dignidade e esperança.
SONORA LIDIANNE E CLEITON (2:04 a 2:19 - 2:53 a 3:05 - 2:19 a 2:29)
“O pessoal aqui, a maioria da comunidade toda, falando dos povoados aqui de Poço Redondo, o pessoal é abastecido por carro-pipa da prefeitura. E tem muitas famílias que não têm condições de comprar” - “O custo do carro-pipa, com uma carrada varia de 150, 200 reais. E também a demanda é grande. Muitas vezes você pode pedir hoje e só vem chegar com dois dias, três” - “Então esse programa beneficia essas famílias também que não têm essa condição de comprar uma carrada de água de carro-pipa”
TEC - Sobe trilha e vai a BG
LOC - A realidade vivida por Lidianne e Cleiton é exatamente o que o governo federal busca expandir. No estado de Sergipe, o Programa Água Doce já atende oito municípios: Canindé de São Francisco, Carira, Monte Alegre de Sergipe, Poço Redondo, Poço Verde, Porto da Folha, Simão Dias e Tobias Barreto. Ao todo, são cerca de 11 mil pessoas beneficiadas e mais de R$ 8 milhões investidos. O secretário Nacional de Segurança Hídrica, Giuseppe Vieira, reforçou o compromisso do MIDR em combater a desigualdade levando água para quem mais precisa.
SONORA GIUSEPPE (1:27 a 1:46 - 0:44 a 1:27) “Então, é a missão do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional trazer aqui os investimentos para as comunidades mais desfavorecidas e, assim, combater as desigualdades e tentar aproximar um pouco mais o nível de desenvolvimento das nossas regiões”
LOC - O ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, esclarece que o programa Água Doce faz parte uma proposta ainda maior.
SONORA - "Tem um eixo do PAC chamado Água para Todos...irrigação no PAC...Que é uma máxima do presidente Lula, produzir alimentos e reduzir desigualdades"
LOC - A meta é instalar mais 100 dessalinizadores no semiárido nordestino em 2025. Até o momento já são 57 prontos, beneficiando mais de 14 mil pessoas. Com água de qualidade, vêm também novos ciclos: mais colheitas, mais saúde, mais tempo para viver. E, no sertão, isso é política pública que funciona. Reportagem, Mayra Christie.