LOC.: As questões divergentes que abordam o sistema de cotas raciais para ingresso nas universidades federai ainda não estão pacificadas na sociedade. A opinião é da advogada especialista em direito e gestão educacional, Ana Claudia Ferreira Júlio. Para ela, o projeto de lei que reformula a política de cotas nas universidades federais cumpre o seu papel, mas não é efetivamente o centro da discussão.
TEC./SONORA: Ana Claudia Ferreira Julio, advogada especialista em direito e gestão educacional
“A lei já separa 50% das vagas das universidadse federais para alunos que são egressos do ensino público, então esse é o primeiro enfoque da lei, mas realmente a lei acabou tomando essa discussão da questão racial para si e isso causa uma série de discussões. Existe uma leitura superficial sobre o tema e a própria lei”
LOC.: A Câmara dos Deputados aprovou no último dia 9 o projeto de lei 5384/20, que reformula e amplia a Lei de Cotas para ingresso nas universidades federais, beneficiando negros, pardos e índios. Um dos pontos do texto trata do novo mecanismo para o preenchimento das cotas. Os cotistas não teriam que concorrer somente às vagas estipuladas para seu subgrupo, eles arão a disputar às vagas gerais. Caso não alcancem a nota para ingresso, essa nota de desempenho do candidato ainda poderá ser usada para concorrer às vagas reservadas a seu subgrupo, dentro da cota global de 50%.
A consultora de Legislativo da BMJ Consultores Associados, Letícia Mendes, reconhece a importância e a necessidade de uma política de cotas, mas acredita que o fato que ainda realmente segrega é o próprio racismo.
TEC./SONORA: Letícia Mendes, consultora de Legislativo da BMJ Consultores Associados
“A maior parte da população é formada por mulheres pretas as quais ainda não ocupam os espaços acadêmicos. A argumentação de que cotas são segregadoras acabam sendo ainda mais racistas sendo blindadas a oportunidade para a população negra”
LOC.: Maria Helena Serafin Rodrigues, de 35 anos, conhecida como Tuya Kalunga, mora na comunidade Tinguizal, no território Kalungas — o maior território quilombola do Brasil localizado nos municipios de Monte Alegre, Teresina de Goiás e Cavalcante — no nordeste do estado de Goiás, na região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Ela comemora a decisão e conta que só teve a chance de se formar por causa do sistema de cotas.
TEC./SONORA: Maria Helena Serafin Rodrigues, Tuya Kalunga
“Hoje, eu jamais morando em um quilombo, morando em uma comunidade quilombola, teria a chance de chegar a voos tão altos que é de ser mestre dentro da comunidade, continuando a viver na comunidade, de ser concursada, professora de uma escola quilombola. Até o processo do concurso foi voltado para as especificidades quilombolas e indigenas”, explica.
LOC.: O projeto segue agora para o Senado, para a aprovação definitiva no legislativo e onde poderá receber novas alteração. Além disso, a Lei das Cotas continuará a ser avaliada a cada dez anos.
Reportagem, Lívia Azevedo